domingo, 25 de abril de 2010

Admiração!

Há pessoas que me deixam inquieta por conseguirem se expressar tão bem e de forma tão bonita. Destaco, dentre elas, Quintana, Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Cartola e tantos outros que são meus guias, seus textos são praticamente a minha bíblia cotidiana. Mas, de tudo o que eu li esse ano, o que mais me impressionou, me marcou, foi este "A Serenata", da Adélia Prado. Colocarei aqui para que seja mais fácil revê-lo sempre que eu quiser.

A SERENATA

Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
— só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

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